28 de agosto de 2010

Tempo é Dinheiro: a Importância do "Time Spent"

Na semana passada, argumentei que time spent - o tempo dedicado pelos consumidores a cada meio - é a medida mais precisa de relevância social e potencial de receita em negócios de mídia. Faz sentido, então, que empresários e outros profisionais do meio dediquem seus esforços a produtos que conquistem o tempo de seus consumidores?

Dados demonstram que a correlação entre tempo dedicado e investimento publicitário não é perfeita:


Parte dessa diferença pode ser atribuída à imperfeição natural dos mercados. O tempo dedicado a cada veículo e cada meio não é mensurado com a frequência ou consistência necessária para ser utilizado como bússola por publicitários e profissionais de marketing que acabam contando com outras medidas para nortear seus investimentos, tais como audiência ou unique visitors, no linguajar de web analytics. Essa imperfeição tende a se corrigir com a experiência, na medida em que resultados práticos demonstrem a eficiência de cada meio para cada anunciante. Já o outro fator que contribui para a diferença entre time spent e ad spend é muito mais intrigante, pertinente e fugaz. Em uma palavra: engajamento.

22 de agosto de 2010

A Web está morta?

A próxima capa da revista Wired declara o óbito da web em editorial de capa escrito por ninguém menos que seu diretor de redação, Chris Anderson, também autor de A Cauda Longa e Free - Gratis. A intencional polêmica já foi alcançada antes mesmo do lançamento da edição impressa, pois o texto, ironicamente, foi publicado primeiro no website da revista (leia "The Web is Dead. Long Live the Internet", em inglês). A matéria de capa é quase certamente um esboço do próximo livro do editor quem, utilizando sua já consagrada fórmula, o esreverá a partir do debate público a que acaba de dar início. (É uma fórmula genial para o desenvolvimento de conteúdo na era digital, diga-se de passagem.)

Vamos entrar no debate. A idéia central que Anderson e seu co-autor, Michael Wolff (biografista de Rupert Murdoch), propoem é a de que os applicativos que se tornaram tão populares no iPhone, iPad e nos aparelhos Android e o sistema fechado que eles representam irão substituir a web aberta -caracterizada pelo uso do navegador como interface e pela abertura para indexação por buscadores - como modo predominante de distribuição de conteúdo profissional pela internet. Para eles, então, trata-se de um confronto épico entre o modelo Apple e o modelo Amazon do qual o primeiro está emergindo vitorioso. Para mim, esta conclusão parece extremamente prematura.

A começar pelo vistoso gráfico que abre a matéria, e que reproduzo abaixo, o texto oferece poucos dados concretos para sustentar seus argumentos (o que não o torna menos relevante ou intrigante).


O gráfico mostra a proporção do tráfego da internet representada por cada tipo de transmissão de dados e, a partir da tendência de queda da web, extrapola seu declínio e eventual morte. Errado. Em última análise, o que determina o valor do conteúdo é o tempo a ele dedicado pelo consumidor. É esse grau de engajamento que vai determinar quanto o próprio consumidor estará disposto a pagar pelo conteúdo. E, indiretamente - multiplicado pelo número de consumidores que dedicam àquele conteúdo tal atenção - quanto pagará um anunciante pela oportunidade de aproveitar esse engajamento em massa para transmitir sua mensagem comercial. Portanto, trata-se de um gráfico irrelevante para o debate. Por que? É simples: a quantidade de dados em uma transmissão de conteúdo pela internet não é proporcional ao tempo que será dedicado pelo usuário para consumí-lo.