A internet produziu um aumento na ordem de magnitude de conteúdo disponível sem paralelo desde disseminação da prensa de Guttenberg dos séculos 16 a 18. Isso exige inovação editorial a exemplo da que ocorreu na época.
"Se continuarmos a escrever no ritmo atual por mais 200 anos, será preciso inventar alguma nova arte de leitura taquigráfica - caso contrário toda leitura será abandonada em desespero." Escrevendo em 1819, Sir Francis Jeffrey, crítico literário escocês e editor do Edinburgh Review, manifestou preocupação com o crescente número de obras literárias disponíveis. Essa tendência já havia provocado uma série de inovações, desde a invenção da biblioteconomia à forma como livros eram editados. No universo editorial, for introduzidas novidades como a divisão de textos em capítulos além do acréscimo de sumários, índices remissivos e de outros tipos e notas marginais indicando mudanças de tópicos. De fato, a utilização de tais elementos era diferencial competitivo dos editores da época. Capas e títulos de páginas se referiam ao número e à precisão de índices, glossários, prefácios e outros instrumentos editoriais para motivar a compra de uma edição específica de um texto clássico em vez de outra.
A internet produziu um aumento muito maior e muito mais rápido que a prensa. Ela estimulou o desenvolvimento de novas ciências da informação auxiliadas pela computação: os mecanismos de busca. Até hoje, porém, é difícil encontrarmos exemplos de inovações editoriais que alteram substancialmente a forma como consumimos conteúdo e, as poucas que há, não estão vindo da indústria editorial e, sim, das indústrias de tecnologia da informação e das telecomunicações. Editores da atualidade parecem dedicar tanto tempo e energia pensando na sobrevivência de seus negócios diante de novos paradigmas que sobra pouco para dedicar à inovação da própria ciência (e arte) de editar. E, ironicamente, a melhor maneira de, não apenas garantir a sobrevivência, mas crescer e prosperar é focar na inovação da prática editorial em benefício de seus usuários. Há muito o que inovar nessa disciplina milenar.
O fim do fechamento
O conceito de se fechar uma matéria - ou seja, finalizá-la para que seja encaminhada para publicação ou transmissão - perde todo sentido na internet. Na web, conteúdo pode ser alterado e republicado instantaneamente e a qualquer momento. E, como várias indústrias vêm aprendendo, se algo que é bom para o consumidor pode ser feito, ele passa a esperar que seja feito de fato. Quando o internauta encontra uma página antiga e desatualizada no site, ele pode muito bem ficar frustrado. Não estaria totalmente desprovido de razão. Abandonar páginas na internet à sua própria sorte não deixa de representar certo desleixo dadas as características do meio.
Referência atualizada
Com o fim do fechamento, nasce um outro tipo de conteúdo próprio para a internet: a referência atualizada. O melhor exemplo dessa estrutura de conteúdo é a Wikipedia. Ainda que produto de um esforço colaborativo e não remunerado, é um dos sites que mais frequentemente aparecem entre os primeiros dez resultados de busca de qualquer buscador. Em muitos casos, quando seus verbetes tem dono, o verbete é atualizado com notícias a ele vinculadas quase em tempo real. O desafio para editores digitais, portanto, é organizar a área de conhecimento à qual se dedicam. É estruturá-las para que possam ser geridas e atualizadas constantemente. Princípios e técnicas da biblioteconomia seriam muito úteis nesse esforço. Ajudariam na organização inicial e, depois, nas decisões de acresentar novso galhos às ramificações do conhecimento sobre cada tema.